Hoje deixo-vos o trabalho (na totalidade) do jornalista Luís Rocha
publicado ontem na revista do Diário de Notícias Madeira.
O trabalho tem como título UM MUSEU DA IMPRENSA EM CÂMARA DE LOBOS.
Será
pertinente? É uma mais-valia?
Porque o da Imprensa e não
do pescador? Ou então o da Vinha, Vinho e Gastronomia?
São algumas questões que deixo. Sei bem que devemos aproveitar as
oportunidades, mas será importante também ver com que os Câmaralobenses se
identificam mais!
Deixo-vos o texto na íntegra para que se reflita sobre o assunto.
“A memória dos tempos em
que as velhas tecnologias de impressão ainda subsistiam constitui o fulcro de
um projeto museológico inovador na Região.
É um projeto museológico
inovador, na Região, e de preservação de um património de interesse
inquestionável, relacionado com a difusão da informação nas sociedades
modernas. A Câmara Municipal de Câmara de Lobos pretende criar um Museu de
Imprensa na localidade, dispondo, para o efeito, de um espaço apreciável e de
um conjunto de peças - cerca de 24 máquinas de impressão, entre grandes e
pequenas - que, uma vez recuperadas, constituirão um espólio particularmente atrativo.
Numa época em que tudo é informatizado, assumem-se como a memória histórica dos
tempos áureos em que a a impressão era a regra.
O espaço, esse, é impressionante. Situado por baixo da Biblioteca Municipal de Câmara de Lobos, pode descrever-se como uma cave gigantesca, com um não menos monumental pé direito. Em princípio, aquele espaço deveria ter sido ocupado com terras, uma vez que fica situado abaixo do nível da estrada, numa encosta com vista para o mar. Mas, tendo-se percebido o seu potencial e amplitude, optou-se por deixá-lo ficar assim - uma pequena floresta de pilares que sustentam a estrutura do edifício da Biblioteca, mas suficientemente separados uns dos outros para proporcionarem um aproveitamento inteligente e bastante à vontade do local. Até agora, funcionava apenas como uma espécie de armazém, mas a autarquia camaralobense pretende afetá-lo ao fim a que acima nos referimos.
Relíquias do passado
Por enquanto, tudo não
passa de um projeto, mas a verdade é que fomos encontrar naquele espaço
máquinas impressoras que nos remetem para o fascínio de um passado relativamente
recente, onde os tipos móveis eram ainda a forma como se imprimiam jornais,
livros e muitas outras coisas. Algumas, porém, datadas de épocas tão recuadas
como 1887, da 'Maschinenfabrik augsburg', adquiridas à tipografia Camões;
outras da Harris Intertype Ldt., datadas de cerca de 1911, de um antigo jornal
fundado no Funchal por Castro Jorge; e ainda Minervas verticais e de bancada,
datadas quer do século passado quer do início do séc. XX, construídas por uma
companhia sediada em Boston, EUA. Do espólio constam ainda prensas La Magand,
uma impressora mecânica Heidelberg de cerca de 1960, uma Adast dominant s14 de
finais dos anos 60, uma Mac Automatic da gráfica do Estreito (Omas Brescia,
Itália), múltiplas caixas de tipos do Jornal da Madeira, e uma Intertype do
DIÁRIO, datada de 1911, que passou deste jornal para a tipografia Natividade,
onde esteve em atividade durante quase cem anos, nomeadamente até 2010.
Estas peças estão a ser
recuperadas por Antonino de Freitas, um experiente mecânico que já consertou
algumas máquinas deste tipo ao longo dos tempos. Sem catálogo, nem mais nada,
vai recuperando paulatinamente as máquinas, desmontando-as peça por peça,
oleando-as cuidadosamente, soldando e pintando tudo o que o exige.
Sobre o estado em que
lhe foram parar às mãos as máquinas que agora estão a ser recuperadas, admite
que não era o melhor: "Estavam um bocado mal, ainda levam um bocado de
trabalho. Mas tudo isto vai ter ao seu lugar. Isto exige é paciência.
Aceleradamente, não se consegue fazer nada", refere, recusando avançar com
prazos possíveis para a recuperação: "Tanto pode correr tudo bem, como
podem haver obstáculos. A recuperação pode levar cerca de dois meses e meio,
três meses... Mas há máquinas que vão ser um autêntico quebra-cabeças. Têm de
ser desmontadas, recuperadas... Este trabalho é assim. Tudo isto leva o seu
tempo. E as máquinas, quanto mais pequenas, mais representam um
quebra-cabeças", disse à nossa reportagem.
A Câmara Municipal de
Câmara de Lobos adquiriu ainda outras peças de interesse, nomeadamente antigos
altifalantes, cadeiras de cinema e máquina de projetar filmes do antigo Cine
Jardim, datadas dos finais dos anos 60, início dos anos 70. Fê-lo porque a sua
intenção é criar um museu com uma ala mais virada para o passado e para as técnicas
de impressão propriamente dita, mas associar a evolução da divulgação da
informação, como então era feita, aos progressos que se registaram ao longo do
século XX, antes de se chegar ao atual conceito multimédia e aos computadores.
E o cinema era uma arte que permitia também não só o entretenimento mas também
a informação e a divulgação de conteúdos, na opinião da edilidade.
Conforme explica ao
DIÁRIO o presidente da Câmara Municipal de Câmara de Lobos, Arlindo Gomes, o
que aconteceu foi que, a determinada altura, proporcionou-se um contacto com
Luís Humberto Marques, que é madeirense e o diretor do Museu de Imprensa do
Porto.
"Havia aqui algum
material, algum património, que nos tinha sido apontado como sendo passível de
vir a constituir uma parte do espólio para um núcleo museológico relacionado
com a imprensa e com a escrita. A ideia começou a nascer e, depois de um
contacto formal com o dr. Luís Humberto, entendeu-se que aquele espaço que ali
está por baixo da Biblioteca, dada a sua amplitude, poderia acolher esta área
museológica".
Arlindo Gomes realça que
a Madeira não tem nenhum espaço do género relacionado com a imprensa. Em tempos
houve a ideia de instalar um museu deste tipo na Região, embora tal se tenha
vindo a prorrogar no tempo. "E nós às tantas assumimos que iríamos tentar promover
que este Museu de Imprensa fosse instalado neste espaço. Apresentámos,
inicialmente, a ideia ao senhor presidente do Governo Regional, que achou a
ideia pertinente, e inclusive, através de diferentes Secretarias Regionais,
houve algum espólio relacionado com a imprensa e com o Jornal da Madeira que
nos foi disponibilizado".
A intenção da autarquia
camaralobense é recuperar o espaço por baixo da Biblioteca - num total de nada
mais, nada menos do que 1800 m2 - procurando nele "retratar não só a imprensa,
mas a comunicação em si, nas diferentes épocas, à medida que ela foi
evoluindo".
Arlindo Gomes salienta
que não gostaria que o Museu se cingisse apenas à impressão, mas abarcasse
também o audiovisual.
Tudo o que fosse
possível colocar naquele espaço, dividindo-o depois por temas relacionados uns
com os outros, seria bem-vindo. E possibilitaria descentralizar a oferta de
museus. "Câmara de Lobos tem hoje um número de visitantes considerável.
Julgo que também seria uma forma de atrairmos mais pessoas interessadas nesta
temática. E, para além disso, seria mais uma oferta cultural para as escolas e
para o turismo", enfatiza. "Acho que seria importante. Um museu
destes não existe no Funchal, é uma temática que não foi abordada ainda em
nenhum outro local da ilha... Julgo que teríamos a oportunidade de ter, naquele
local, com as devidas adaptações, um museu interessante", aponta Arlindo
Gomes.
Para já, o autarca diz
que está mais ou menos definido um 'lay-out' interior com mezzanines e zonas de
exposição. "Inclusive, está já mais ou menos pré-definida a forma como
serão colocados os diferentes equipamentos. A ideia será apresentar naquele
espaço, não só uma exposição permanente, constituída por peças ligadas à
imprensa e à comunicação, mas também mostras rotativas". Para isso, seria
posta em funcionamento uma parceria com o Museu de Imprensa do Porto.
"Haveria exposições temporárias. Recordo que, no Porto, eles têm sempre
uma exposição de caricaturas e 'cartoons'... Mostras como essas passariam também
pela Madeira, pontualmente. Além disso, no âmbito desta parceria, teríamos
também a oportunidade de estarmos articulados com a Rede Europeia de Museus de
Imprensa. Era uma forma de criarmos uma boa dinâmica na localidade".
Arlindo Gomes explica
que o que gostaria era de, no amplo espaço situado sob a Biblioteca, manter a
ala central mais ou menos livre, permitindo, a qualquer momento, realizar ali
eventos temáticos, ou criar ali uma pequena plateia para duzentas ou trezentas
pessoas. "Tal permitiria que, para além das exposições temporárias,
houvesse um envolvimento de outros encontros, diretamente relacionados com o
Museu, ou não".
Fundos comunitários não
disponíveis
"O espaço existe...
Vamos agora tentar criar condições para se instalar minimamente este
Museu". Se fosse possível, efetivamente, desenvolver um projeto com outra
dimensão, a autarquia almejaria criar um auditório onde se pudessem passar
filmes a três dimensões, ter zonas onde fosse possível apresentar hologramas...
ter outras formas, enfim, mais avançadas de comunicação e de projeção.
Contudo, esclarece o
nosso entrevistado, "atendendo a que não teremos, a priori, qualquer
apoio, nem comunitário nem de outra entidade qualquer, a Câmara, para já, não
irá instalar esses equipamentos, nesta primeira fase. Os hologramas, por
exemplo, seriam muito interessantes...". No entanto, para já não é
possível. Arlindo Gomes estima em cerca de 250 mil euros o desenvolvimento da
primeira fase do projeto. "Pensamos que, com isto, conseguimos pôr o
espaço a funcionar. Claro que, se fosse uma coisa como nós realmente queremos,
seria algo muito mais ambicioso, na ordem do milhão e meio de euros".
Isto, com equipamentos que, nas palavras do presidente da Câmara, permitiriam
contar a história da comunicação desde os seus primórdios até à atualidade.
Seria, então, necessário adquirir toda uma série de equipamentos mais atuais, o
que, nesta fase, não será fácil.
A CMCL pretende, ao
longo deste ano, gradualmente e de acordo com as suas possibilidades, ir
preparando o local para ver, se até ao final do ano, seria possível estar em
condições para, pelo menos na parte essencial, ou seja, a da imprensa, o Museu
estar já preparado para poder abrir ao público, se não com as condições ideais,
pelo menos com as possíveis. "Temos já algum equipamento, temos ali um
trabalho a ser feito por pessoas que conhecem a matéria, temos esta cooperação
com o Museu de Imprensa do Porto, depois há aqui também outras pessoas que irão
trabalhar a temática. Há que preparar o historial de todo aquele equipamento, a
sua descrição, e contar a história, propriamente dita, daquilo que ali está
exposto. Isso terá de ser feito por entendidos, e é um trabalho que será feito
a seguir. Neste momento, a nossa preocupação é a recuperação de algum espólio
que já temos, e depois tentar recolher mais algum espólio de outras
entidades". No entanto, Arlindo Gomes explica que o que mais interessa à
edilidade não é tentar recolher muitas coisas, mas perceber o que já existe e o
que ainda faz falta. Até porque há a disponibilidade, por parte do Museu de
Imprensa, de ceder algum espólio que possuem hoje, parte dele adquirido também
na Madeira.
Por outro lado, afirma
Arlindo Gomes, há outras pessoas que já se predispuseram a oferecer mais
algumas peças para o Museu. Interessa, todavia, diversificar, sobretudo, e não
multiplicar peças similares às já existentes. "Não sei, neste universo da
imprensa, o que é que se pode arranjar... Nós estivemos no Museu de Imprensa do
Porto, e eles têm lá algumas máquinas grandes, mas também não são assim
tantas... A ideia que eu tenho em realização a este espaço, é apresentar mais
ou menos aquilo que lá está... Com certeza com uma outra parte, a da
comunicação e a do audiovisual".
O nosso interlocutor
enfatiza, sobretudo, a vontade das partes envolvidas neste projeto, quer a
CMCL, quer o Museu de Imprensa do Porto.
"Se ele nos der o
apoio e o 'know-how' desse tipo de espaços, e depois tivermos a garantia das
exposições temporárias, mais aquilo que nós próprios podemos fazer, acho que
conseguimos lá chegar, e estou convencido de que, quando este projeto estiver
no terreno, teremos outras pessoas dispostas a dar a sua colaboração, pelo
menos pessoas ligadas à area da imprensa e da tecnologia. Pelo menos, é essa a
expectativa".
Já se registaram doações
de equipamentos, que são encorajadoras. "Quando tivermos isto minimamente
identificado e inventariado, iremos à procura de outras coisas que ainda nos
faltam", promete Arlindo Gomes, que quer deixar esta ideia
"implantada e com meios para evoluir", por recear que o projeto, com
o término do seu mandato na autarquia, acabe por se perder.”
In revista
do diário de notícias da Madeira
Jornalista:
Luís Rocha
Fotografias:
Joana Sousa/ Aspress
atentamente e, sempre ao
dispor
cumprimentos Carlos Gonçalves
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